quarta-feira, 1 de abril de 2009

Igreja Perseguida - Lição de cruz e ressurreição.










"Pelo poder do Espírito Santo, os cristãos perseguidos optaram por uma entrega que os capacita a transcender os seus medos"



BRASIL - “Porque o amor de Cristo nos constrange, julgando nós assim: que, se um morreu por todos, logo todos morreram. E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou” 2 Co 5.14,15

Todos nós precisamos da cruz. Desesperadamente, precisamos. Apesar de termos chegado aonde chegamos, estamos cada vez mais necessitados da cruz de Cristo. Muitas igrejas hoje perderam o sentido de missão. Elas precisam não do poder, do status, nem dos aplausos. Precisam, sim, de morte do ego, de cruz.

Não temos dúvidas que muitas ênfases teológicas e pastorais deixaram de afirmar a cruz em relação à ressurreição. Não se pode afirmar uma sem a outra, por um simples motivo: não foi assim que Deus enfatizou. A cruz pressupõe também a ressurreição, e o mesmo projeto nos é proposto. A cruz é a prerrogativa de uma experiência de ressurreição. E ressurreição aponta sempre para a libertação de todos os nossos medos e condicionamentos.

Precisamos meditar na realidade de que “... se um morreu por todos, logo todos morreram...” A morte com Cristo, à semelhança de sua própria morte, é uma entrega pessoal profunda. Essa entrega tem de se dar em níveis cada vez mais profundos. Morrer com Cristo é uma doação total de si. É uma profunda entrega a Deus de todo nosso ser, nosso fazer, nosso pensar. É uma entrega da existência, é uma entrega de nossos apegos, é uma entrega que desafia nossa cultura possessiva.

"Pelo poder do Espírito Santo, os cristãos perseguidos optaram por uma entrega que os capacita a transcender os seus medos"

É por isso que a Igreja Perseguida, dos irmãos que todos os dias, “são entregues à morte por amor de Cristo”, têm o que dizer à igreja contemporânea. É deles que pode vir o nosso ressurgir. É deles que deve vir o ensino do que é ser cristão. São esses irmãos que por amor a Cristo perdem tudo. Eles não fazem conta da vida, renunciam à família e, por isso não são prisioneiros. Podem ser aprisionados em cadeias, mas, como entenderam o que é a cruz de Cristo, participam de um poder que transcende as prisões. Os irmãos da Igreja Perseguida preferem a prisão e o martírio a serem entregues a tão pobres prisões a que estão sujeitos os cristãos da igreja contemporânea. No fundo, tudo é uma questão de escolhas. Pelo poder do Espírito Santo, os cristãos perseguidos optaram por um tipo de entrega que os leva à experiência de poder espiritual, o que os capacita a transcender os seus medos.

Essa é uma lição que precisamos aprender com eles. Muitas vezes nos apegamos à nossa própria imagem e, diante de qualquer tipo de agressão a ela, somos mortalmente feridos. Essa é uma triste prisão. Não é como a prisão de Pedro, em Atos capítulo 12. Ali, Pedro, prestes a morrer, na noite anterior ao seu martírio, dorme profundamente. O anjo tem de tocá-lo insistentemente para acordá-lo. Pedro, apesar de tudo, pensa estar tendo um sonho ou uma visão, tamanho o sossego de seu sono.

O mesmo não acontece com muitos de nós. Muitas vezes perdemos o sono diante de ameaças que só nos escravizam, porque não temos um nível profundo de entrega de todas as coisas a Deus. Somos tristemente possuídos por aquilo que pensamos possuir.

"O descanso de Pedro frente ao seu
martírio é um símbolo do cristão que
abraçou a cruz como modo de viver"

Paulo diz: “E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu”. Quem não vive para si é profundamente liberto, e libertação é o poder da ressurreição operando em nós.

A Igreja Perseguida é um modelo. Ela é formada por cristãos que a tudo deixam para viver para Deus e para os irmãos. A igreja contemporânea só tem salvação se voltar seus olhos de novo para cruz, e buscar ali sua fonte de vida e inspiração.

A afirmação da cruz é também a afirmação da vida liberta. O descanso de Pedro frente ao seu martírio é um símbolo do cristão que abraçou a cruz como modo de viver. Nada temos a perder, porque nada possuímos – isso é entrega total. Isso é humildade. A Igreja Perseguida é uma igreja humilde. São irmãos e irmãs que nada possuem a não ser o amor de Jesus. É por isso que, frente às mais intensas perseguições, podem também experimentar o poder da ressurreição. Nós, nesse sentido, parecemos analfabetos. Isso porque muitas vezes demonstramos medo, desconfiança e falta fé. Tememos a perda porque às vezes duvidamos do poder consolador do Espírito Santo. Tememos a perda porque às vezes nos esquecemos que Cristo nos deu tudo. Tememos a perda de tudo porque às vezes não conseguimos acreditar que Deus basta.

A Igreja Perseguida não é uma igreja fraca, não é desamparada. É uma igreja do poder de Deus. E é o caminho que, penso eu, Deus poderá usar para trazer salvação à igreja contemporânea que se espalhou pelo mundo, mas que, em muitos casos, se aprisionou com a cultura e quase não pode mais fazer diferença na sociedade, por ter se tornado igual a ela.

"Precisamos olhar nos olhos desses
irmãos para compreender profundamente
o que significa a ressurreição de Cristo"

Que Deus use a coragem e a audácia dos irmãos que ousaram perder tudo por amor a Cristo. Precisamos desses irmãos para nos ensinar o que é o cristianismo que se entrega totalmente. Precisamos desses irmãos para nos apontar a cruz, mansamente como o fazem, ao mesmo tempo em que precisamos olhar nos olhos desses irmãos para compreender profundamente o que significa a ressurreição de Cristo, que foi grandemente difundida na vida de irmãos que tudo entregaram por amor a Ele.

Por fim, quero lembrar que Paulo afirma que “o amor de Cristo os constrange”. Poderíamos dizer que grande parte da nossa crise é fundamentalmente uma crise do amor. Atualmente, algumas concepções de Deus são utilitaristas e individualistas. Por isso muito pouco se sabe do amor. O nível de amor comunitário vivido em comunidades de cristãos perseguidos é imensamente maior do que o que vagamente se experimenta em algumas confortáveis comunidades. O cuidado uns pelos outros, o desejo de cura e libertação das prisões, o sentimento de sofrer em comunidade, são todos conceitos que a Igreja Perseguida tem a ensinar para a Igreja Livre. Os irmãos da Igreja Perseguida sabem o valor do amor e da entrega aos irmãos. Sabem o valor do amor a Deus, que é entrega total, sabe do amor aos irmãos, que é doação para livrá-los dos sofrimentos.

Se aprendermos com a Igreja Perseguida o que é a cruz, refletiremos na sociedade a ressurreição e a alegria de viver para e com Cristo, para e com os irmãos.

Nossa cura deve vir da Igreja Perseguida. Pois é quando estamos fracos que somos fortes.

Missão Portas Abertas



Autor: Pastor Marco Antonio Fernandes
Fonte: Missão Portas Abertas

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